quarta-feira, 30 de março de 2011

Ella e Elle


O sol estava nascendo e Ella sabia disso por causa da luz lúdica que invadia a estação, entrando por aquelas vidraças enormes e sentindo prazer em mostrar que mais uma noite havia chegado ao fim, o movimento aumentava pessoas indo e vindo o tempo todo, todas muito atarefadas, e Ella ali sentada esperando o próximo trem. Havia jornais com notícias antigas jogados pelo chão, e eles insistiam em lembrar aqueles rolos de feno do cenário de faroeste, passando ligeiros por locais aonde não havia nada além de cadeiras vazias.

O barulho dos trens enchia a estação assim como o cheiro de café novo e pão fresco que vinha das lojas que se espalhavam por todo o perímetro. O relógio soou seis da manhã, Ella sabia que estava muito cedo para partir, resolveu esperar o trem seguinte, afinal Ella gostava da estação tanto quanto viajar de trem, o apito soltou uma nota aguda e o trem partiu, Ella ficou ali, reparando em quantos sonhos se passavam pela estação, quantos deles seriam realizados? Para Ella tudo ali passava mais devagar em um tom de sépia que Ella gostava bastante, então Elle se aproximou, Elle sempre se aproximava quando Ella estava pensativa, e mesmo quando não dizia nada era possível ver naqueles olhos brilhantes e ingênuos a vontade de saber o que se passava na mente de sua princesa, então Ella lhe respondeu com um olhar verdadeiro que Elle era capaz de entender com perfeição, Elle tinha muitos dons e esse era um dos que Ella mais amava. Então com aquele seu poder de compreender um olhar Elle a tomou pela mão e a levou até um piano que havia ali no meio da estação.

Havia muito tempo que Ella não tocava, mas Elle insistia com um olhar cativante, então Ella achou que Elle merecia um pouco do seu esforço. E tocou, buscou a musica que era mais preciosa para Elle, e o ensinou, assim Elle mesmo poderia tocar seus sonhos. Ella não sabia se Elle tinha gostado de aprender, tudo o que tinha conhecimento era que Elle se esforçava bastante, e isso fazia com que Ella o admirasse. Sim Ella o amava, e acreditava que Elle também a amava. Ella se sentia insegura pois antes tudo havia caído em meio ao vão e seus sonhos haviam sido descartados, e Elle percebeu que Ella estava triste, Elle parou de tocar se aproximou, a abraçou e disse: “Do que você tem medo princesa?”, Ella não falava nada mas Elle entendia cada silêncio, e respondia a cada um deles, “Sim, eu sou aquilo que você buscava, sou algo um pouco acima de um homem, serei eu mesmo com o desejo de que para ti seja tudo diferente.”

E assim Elle a apertou em seu abraço, e não havia lugar no mundo que Ella se sentisse mais segura do que ali, perdida naquele abraço.

***Anna Lins...

Borboleta e Mariposa


Éramos apenas nós dois, eu e ele caminhando por uma estrada, nas laterais haviam belas casas todas elas enfeitadas com flores, o lugar cheirava como nenhum outro, nos perguntávamos qual das casas seria nossa, havia uma antiga escola que há pouco tempo voltara a funcionar não me lembro bem o nome algo com S e Júnior. Lá as crianças sorriam e brincavam como se nada fosse acontecer eu podia ouvir os pensamentos dele e pensávamos em uníssono que era maravilhoso estar ali um com o outro.

Resolvemos caminhar até o fim da estrada aonde havia uma grande casa, as paredes eram cobertas de hera e flores brancas e rosa das quais eu gostei muito, o vizinho tinha um jardim de flores roxas, eu as olhei e pensei que representavam algum perigo, e então ele percebeu que eram carnívoras, me preocupei com as flores do nosso futuro lar, seriam elas carnívoras também, me aproximei e para o meu alívio descobri que não, tinham um cheiro diferente de tudo o que eu já havia sentido, e eu me sentia bem ali perto da hera, logo que abrimos o portão estavam lá no nosso futuro jardim um milhão de borboletas, de todas as cores e tamanhos, eu achei aquilo maravilhoso.

Saímos para buscar algo aparentemente importante, e quando voltamos percebemos uma das pequenas borboletas do nosso jardim, voando pelo caminho, e então do meio da hera saiu uma mariposa, marrom e enorme, suas asas pareciam paginas de um livro envelhecido, como se alguém a tivesse recortado de uma dessas folhas de papel, e a mariposa voava atrás da pequena borboleta como se buscasse alguma cor... ele se deitou na grama perto da hera e eu me deitei no peito dele, ficamos observando as duas, mas eu tinha medo da mariposa, nunca fui fã de mariposas ainda mais daquele tamanho, elas nos fazem pensar que são borboletas, mas a verdade é que não são, eu gosto delas não as odeio, são até bonitas, aquela em especial eu gostava das asas envelhecidas, desde que não se aproximasse muito eu decidi que ela era adorável, e a borboleta, tão pequenina perto daquela mariposa imensa era como a tinta certa para o papel envelhecido, uma tinta azul viva e muito nobre junto com um tom preto extremamente escuro e brilhante. Eu achei curioso, as duas criaturas brincando, era como se não existisse nada entre elas, não importava o que os outros pensavam, ou o quanto parecia estranho, nós mesmos éramos apenas observadores da felicidade delas, eram simplesmente amigas, pequena e grande, colorida e envelhecida, borboleta e mariposa, ambas sem distinção.

***Anna Lins...